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Eunápolis, 14 de setembro de 2021

Querida Aline

A tarde cai aos poucos e nada faz lembrar a manhã fechada, tentando decidir-se se seria um dia glorioso ou carrancudo, como aqueles vovozinhos que mantém o cenho fechado e nos olha   sob o rabo de olho, que dá até medo. Aos poucos, como uma criança, o dia foi sorrindo e iluminando o céu e espalhando as nuvens brancas em grandes blocos e desenhando figuras diversas. Fecho os olhos e me vejo menina, apontando para um cachorro na nuvem, que logo a seguir se transforma em coelho, ou, em um velho, que na minha inocência infantil, acreditava que era Deus. O balançar da árvore parece uma dança de quem está feliz e, talvez, ela esteja mesmo, pois, aos poucos, o inverno vai se recolhendo e voltando para dentro de si, da mesma forma que também tivemos que nos recolher em nós mesmos, mergulhando em nossa alma, ora vendo o nosso melhor, ora o nosso pior. Eis que a primavera aos poucos vai, nos trazendo para a luz. Como as árvores que lentamente se livram das folhas secas e velhas e começam um novo ciclo. Assim somos nós que nos refazemos para um novo ciclo, como nos diz a canção: “...tira essa dor do caminho que eu vou sair por aí, é primavera em meu coração e nem quero saber se sofri.” Dizem que na primavera, o amor está no ar. Mas o que é o amor?  Assim pergunta e responde o poeta, ao dizer que vai além da sua compreensão, para uns é chave e para outros foi prisão. O que é o amor? Cantado em versos e prosas por cantores, menestréis e poetas, como Mario de Andrade que diz que amar é verbo intransitivo e devo concordar com ele, pois o verbo amar não precisa de complemento, pois o amor fala por si só. Para o Renato Russo, parafraseando o versículo da bíblia, afirma que mesmo que se eu falasse a língua dos homens ou se tivesse o dom da profecia e conhecesse todos os mistérios, sem amor eu nada seria. E o que dizer da poetinha Vinicius de Moraes que nos diz: “eu sempre vou te amar por toda minha vida.” O amor ingênuo de uma criança, como o Sam aos 3 anos: - mamãe, você me ama: - Sim eu te amo do fundo do meu coração. Mamãe, eu não “cabo” no seu coração. Essa ideia de que o coração é a morada do amor é antiga e ainda reproduzimos isso com muita frequência. Na realidade amor é um emaranhado de neurotransmissores, cuja função é nos manter vivos, “cuidando" para que nossa espécie sobreviva. O amor libera endorfina, serotonina e uma série de hormônio que nos deixa assim, voando. Como explicar o amor à primeira vista? E o amor por um emaranhado de células que forma um embrião e a gente já ama, ou, o amor por um animal?  Quando o amor é generoso, Ágape, o amor maior e quando é sexo é Eros e então Eros e Ágape podem se fundir., vivemos o amor maior. O amor é ir ao encontro do outro e o ódio que também é o resultado do emaranhado de neurotransmissores, nos afasta do outro. Assim, para as pessoas o amor e ódio moram na mesma casa, no coração. Para mim o amor e ódio moram no cérebro. Não importa onde o amor mora e sim como sentimos. Amar, verbo intransitivo. Que ama, ama e pronto. Amor é pensamento, teorema, Amor é novela, Sexo é cinema. Então, o que posso eu lhe dar, pobre como sou a não ser o meu amor, fruto do emaranhado dos meus neurotransmissores. Desejo-lhe o amor maior.

 

 

 

 

 

 

Com amor Emília Sam

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