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Eunápolis, 08 de agosto de 2020.

 

Querida Mônica,

 

Em tempos tão difíceis, o único oásis que temos são os nossos amigos, irmãos, pais, filhos e toda a família. Um tempo que que nos distancia, mas também nos aproxima. Talvez o legado que deixaremos para a geração futura será a certeza que devemos amar hoje, pois não sabemos se haverá amanhã, como nos diz o poeta. Da mesma forma, que fala Rubem Alves, “que coisa boa é termos amigos”. Bem sei que não sou uma boa amiga para ti. Sou um universo em expansão, sou arredia como um animalzinho assustado, pois, a vida nos deixa marcas e só tempo e o carinho de pessoas como você conseguem fazer com que a gente se torne alguém melhor. Lembro-me do primeiro contato com você lá no hospital regional. Você parecia um furacão com tamanha energia e força que fiquei apavorada. Aí de mim, um bicho do mato tentando sobreviver ao ambiente inóspito do Regional. Nada como o velho tempo para nos tornar pessoas melhores. Aos poucos e naturalmente foi surgindo proximidade e afinidade. Aprendi tirar do furacão que você é, o vento suave que refresca no calor. Mas não se enganem achando que o furacão se foi, pois, você é a força e a ternura, assim como as duas faces da mesma moeda. Fui nesse processo, observando o seu compromisso com a profissão, o trabalho, os estudantes, a família e a menina Catarina. Nessa caminhada aprendi com você. Trabalhamos juntas, mesmo não estando na mesma empresa. Você me viu grávida e foi uma das primeiras pegar o Sam no colo, antes mesmo dele ter 24 horas de vida. Ele foi crescendo e você o viu se tornar um menininho carinhoso, brincalhão, esperto e pensativo e eu lhe narrava todas as peripécias dele. Eu por outro lado, acompanhava a Catarina por meio das suas falas, o desenvolvimento na escola, os amigos, as coisas da puberdade, a primeira viagem sozinha, o primeiro amor, a dor, a conquista do espaço no trabalho.

O tempo, o respeito e a amizade nos aproximaram, e, eu me condoía diante das notícias de seus familiares doentes, mas me alegrava a cada notícia da conquista e progresso dos seus sobrinhos. O tempo foi caminhando, assim como nós. Por quantas vezes você me assustou diante das pneumonias. E o que falar da luta contra o cigarro? Eu estava lá. Dava bronca e colo ao mesmo tempo. Conheci o seu novo amor, e, você merecia alguém para amar e um amor para cultivar e cuidar. Sofremos juntas no IFBA, brigamos contra o sistema, ganhamos e perdemos, mas você nunca perdeu a ternura. Uma tremura que só quem lhe conhece sabe que você tem.

Você me apoiou na coordenação e foi o meu braço, minha razão e coração. Fui para o mestrado e você estava lá me apoiando e incentivando. O tempo passou, eu descasei e você me ouviu, não me julgou e compreendeu. Você esteve presente em cada anúncio meu sobre 03 vestibulares e o ENEM que o Sam fez e a conquista de passar nas melhores universidades do país.

Agora estamos juntas para preservar a nossa vida e das pessoas a nossa volta. Está cansativo e estressante para todos e o que nos resta é esperar. Não podemos abraçar apertar as mãos, sentar e tomar um café juntos. Talvez seja este o plano: separar para depois juntar e nunca mais separar, e, quem sabe a humanidade se tornará melhor. Você bem sabe que eu sou assim um bicho arredio, de poucas palavras ou como dizia mamãe, “a presença silenciosa”, mas você sabe que estarei caminhando ao teu lado, e, se você cair estarei lá para lhe ajudar levantar

 

Emília Sam

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