desafia
e dá coragem para cumprir minha corrida da manhã. Vou para a rua e vejo as
mesmas pessoas, os mesmos acenos, os mesmos moradores de rua recolhendo os
parcos pertences, iniciando a rotina do dia, em busca de uma moeda para a
comida do dia, ou, para aplacar a dor com doses de aguardente. Penso neles, mas
não sei seus nomes e suas histórias, ou, em que momento eles se arrastaram ou
foram arrastados pela a vida. Olho à minha volta e sinto que estou vivendo o
mesmo dia todos os dias, como um loop temporal retratado naqueles filmes que
povoaram a nossa infância e adolescência nos levando a crer que isso seria
incrível. Mergulhada em esses pensamentos, me lembro que esqueci de respirar,
encaixar o quadril, contrair o abdômen e correr. Volto à minha concentração,
mas não por muito tempo. Os meus pensamentos se voltam para a série do “Doctor
Woo” que diz: “corra garoto esperto e se lembre”. Mergulho em minhas lembranças
e me vejo com o menino Sam assistido Doctor Woo, star Wars e tantos outros do
universo infanto-juvenil, e uma saudade invade o meu coração e sigo correndo.
Mantendo o olhar no horizonte, tentando ignorar o mundo à minha volta. Em meus
pensamentos, discuto comigo mesma e cantarolo a canção em que o autor afirma
que nada será como antes amanhã.... Que notícias me dão dos amigos? Que notícias me dão de vocês.
Reflito rapidamente sobre o doce e ao mesmo tempo, amargo da saudade. Imersa em
meus pensamentos não notei que já havia passado da meta de corrida para o dia.
Faço retorno com a vergonha de quem de quem perdeu a próxima saída indicada na
placa. Volto à corrida, agora para casa com as palavras o cantor martelando em
minha cabeça: “sei que nada será como antes, amanhã ou depois de amanhã”. Sim
meu caro meu caro poeta, nunca mais seremos os mesmos, principalmente para
milhares de pessoas. Os meus pensamentos voam como o vento e ouço a voz do
poetinha sussurrando em meu ouvido:
“Para isso fomos feitos. Para lembrar e ser lembrados. Para chorar e fazer chorar.
Para enterrar os nossos mortos...Por isso temos braços longos para os adeuses”.
Ah poetinha, você só não nos falou que seriam tantos a ser enterrados, tantos
corações separados, tanto riso que virou pranto. Chego em casa e começo a
rotina do dia :banho, café da manhã, abrir todos os e-mail, acessar os
processos, responder todas mensagens, chamar professores e estudantes, reunião,
aulas..
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